sábado, 7 de janeiro de 2017

Cuidado com a "crise"

Das eleições de 2014 até o fim do processo de impeachment, "crise" foi a palavra mais dita em todos os noticiários.

A população inteira assimilou o recado e começou a pensar muito mais antes de gastar dinheiro. Muita gente perdeu o emprego, é verdade, mas isso aconteceu porque os empresários também decidiram guardar dinheiro.

Quantas placas de "vende-se" estão espalhadas pela cidade? Quantos imóveis fecharam? Quem tinha dois, resolveu vender, ou fechar um, para guardar dinheiro. Todo mundo se preparou para sobreviver à dita crise.

Isso causou uma fuga enorme de capital no comércio. Segundo o Dieese, em 2015 o comércio teve uma queda de 4,3% no volume de vendas. A última vez que isso havia ocorrido foi em 2003. Essa queda, se considerarmos somente as 20 maiores redes de lojas, significa R$9,8 bilhões a menos em vendas.

Se as pessoas passam a ter receio de comprar, enquanto a mídia continua a injetar ainda mais medo, insinuando que o país vai quebrar, que a Petrobrás vai falir, que os tempos são outros (isso porque nunca disseram que os tempos eram bons, antes da crise), o comércio precisa reagir. Aí os produtos começam a ficar mais caros e, além disso, as empresas diminuem a quantidade da embalagem (já percebeu que a caixa de bombom agora contém 300g, e não 400g como antes? Uma redução de 25%. Todos os condimentos também diminuíram a quantidade. Sardinhas em lata diminuíram de 90g para 84g no peso drenado. O pão diminuiu e sofreu um grande aumento no preço).

Tudo isso fez o valor da cesta básica subir, chegando a R$475,00 em setembro no estado de São Paulo, maior valor do Brasil. Na Bahia, está R$380,00. Enquanto isso, a PEC 55 que está no Senado, vai diminuir o valor real do salário mínimo pelo menos nos próximos 10 anos, enquanto os preços continuarão subindo.

Ao final desse ciclo que vai sangrar os trabalhadores e aposentados que recebem até dois salários mínimos, corremos o risco de voltarmos à época em que uma cesta básica custava um salário mínimo. E todo o ganho real que os mais pobres tiveram na última década voltará para as mãos da elite. Não se pode deixar a elite resolver nada, porque toda vez que fazemos isso, voltamos 20 anos no tempo.

Após o impeachment, o primeiro discurso de Temer foi: "Não fale em crise, trabalhe." Mais um recado dado e assimilado. Agora que "afundamos" com os últimos 12 anos, é hora de pagar a conta, devolvendo tudo para os mais ricos.

O que eles mais querem é ver a periferia que reformou suas casas, construiu a cobertura, comprou carro e passou a fazer churrasco todo fim de semana, volte a comer ovo com farinha, trabalhando até 12 horas por dia, sem tempo de estudar e, se possível, sem carteira assinada.


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