terça-feira, 15 de novembro de 2016

O que a periferia nos dá?



Você cresceu na periferia, estudou na escola pública do bairro, com os próprios vizinhos. Fez amigos a vida toda.

Você pegava ônibus cheio domingo de manhã para ir à praia e demorava mais de uma hora só para chegar lá. Você perdeu vagas de emprego e percebeu que foi porque sua cor, ou seu bairro, não era bem vista(o).

Você foi seguido de perto, várias vezes, por seguranças e câmeras em lojas, shoppings, supermercados. Você foi abordado e revistado outras tantas vezes porque possuía característica suspeitas.

Você precisou economizar muitas, muitas vezes, para ter três refeições. Você passou muitas noites em postos de saúde que só tratavam com injeções. Você passava quase todos os dias por um esgoto a céu aberto. Você nem é velho, mas lembra de quando o asfalto finalmente chegou na sua rua. Você já bateu laje, já foi mecânico bicicletas, já vendeu produtos de revistas, já empacotou e transportou compras, já carregou blocos, já lavou carros, já vendeu pipoca picolé, entre tantas outras coisas, para ter um trocado e ajudar a família.

Você precisou se esforçar o dobro, o triplo, para estudar e passou a acreditar que poderia cursar o ensino técnico, ou superior. Trabalhou, estudou e constituiu família ao mesmo tempo. Você precisou fingir que a vida de alguns colegas, de balada em balada, era normal; só você que não sabia como se adaptar. Esses colegas nem sabem chegar no seu bairro.

Você sabe onde estão os amigos de verdade, que torcem pelo seu sucesso, que sabem o tamanho da sua luta. Você sabe como é bom andar onde conhece todo mundo e ao passar pelo campinho, pelas paredes que marcou com a bola, as lembranças da infância simples e feliz se fazem presentes. Você percebe que isso tudo é muito mais vida do que morte, como dizem os jornais. Você entende que não seria exatamente assim, se tivesse crescido em outro lugar, entende que isso tudo te ensinou muito mais do que os muros de um condomínio poderia ensinar, que isso tudo te fez muito mais humano do que aulas numa escola cara poderiam tornar.

Você conquista um emprego, um diploma, uma carreira. Você agora tem conhecimento, formação reconhecida, tem o direito de ser quem sempre sonhou. Aquilo que sempre foi dito a você que traria só coisas ruins, a periferia, formou você. E aqueles que sempre fizeram questão de ignorar você, fizeram questão de falar mal do seu bairro, fizeram questão de pedir pra você subir pelo elevador de serviço, fizeram questão de generalizar tudo o que você é como algo ruim para a sociedade, todos eles vêm dizer que seu lugar não é na sua casa, que agora você pode se mudar porque seu bairro não serve para você. Agora, querem dizer que o que tornou você uma "pessoa boa" foi o seu anseio de se tornar como eles e que toda a sua história de vida nada tem a ver, como se a periferia não tivesse nenhuma importância em tudo o que você conquistou, como se você devesse a eles e não aos seus amigos, seus vizinhos e seus familiares.

Você não pode ser como eles. E isso é muito bom. Fique na periferia, ela merece muito mais do que podemos pagar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A certeza da morte


E quando a vida te perguntar: você está pronto para morrer?
Quantas pessoas poderão sorrir por lembrar algo que vocês viveram? Quantas pessoas terão a certeza de que o mundo inteiro precisava te conhecer? Quantos sonhos você realizou e quantos planos você deixou de lado por uma boa razão?

Quando a vida der os sinais, o quanto você estará preparado para dizer sim, ou não? E se nada houver? E se tudo houver? O quanto você tem vivido a esperança? O quanto sua mente será mais forte do que seu corpo? 

Quando a vida te pedir um tempo, você dará? Quando o stress aumentar, você descansará? Quando os resultados não vierem, você celebrará o que foi bom?

Você terá gargalhado até chorar, alguma vez? Terá elogiado alguém com sinceridade? Terá feito amigos de verdade? Terá ajudado sua família? Terá acreditado na humanidade? Nesse dia, você terá sido importante para quem está aí ao seu lado?

Quando a vida te responder sobre esse dia e não houver nenhum único passo a mais para dar, a criança que você foi teria orgulho de você?

Hoje é dia de fazer memória, mas também é dia de refletir sobre si e perceber que ainda dá tempo.

domingo, 30 de outubro de 2016

A onda atual de desmobilização

Nos últimos meses, presenciamos algumas propostas do atual governo, como a PEC que torna a Educação um serviço essencial constitucionalmente, com o intuito de que as greves dessa área não possam paralisar completamente as escolas e Universidades, e a PEC 241 do teto dos gastos públicos, aprovada na Câmara que chegou ao Senado como PEC 55 que, no próprio site do Senado, possui 95% dos votos contrários à sua aprovação. Ainda vem por aí Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, Reforma do Ensino Médio, etc.

Por que será que os ataques contra o Movimento Estudantil, contra os Movimentos Sociais e os Sindicatos estão tão fortes nesse momento? É possível enxergar as entrelinhas desses ataques, pois vêm de pessoas saudosistas pelos governos que sempre serviram aos interesses contrários aos dos mais necessitados. Vamos a algumas considerações:

Se Educação é essencial, pagar abaixo do Piso Nacional é crime de responsabilidade para os prefeitos e governadores e crime inafiançável para os donos das escolas particulares?

Se Educação é essencial, pagar R$520 por mês a um estagiário que faz exatamente as mesmas funções em sala de aula que um concursado, é plausível?

Senadores, um serviço "essencial" para o país precisa ser tratado como tal. Uma escola estadual que estudei, possui 21 salas, sendo 14 de aula, 3 de línguas, sala de informática, sala de dança, sala de artes e um laboratório de química e biologia. Sabem quanto o colégio recebia para a manutenção disso tudo? R$5.000,00 a cada três meses. Isso não paga nem a gasolina que um único Senador declara usar.

Agora vem falar em tornar a Educação essencial... Isso vai triplicar os investimentos em Educação? Porque é só observar o abismo entre a educação pública que dá certo (a Federal) e a que dá muito pouco certo (a estadual e municipal). Nos Institutos Federais, cada aluno custa 3 vezes mais do que nas escolas públicas estaduais e municipais. Os professores também ganham quase 3 vezes mais.

Além disso, a Lei 7783/89 que dispõe sobre o que é um Serviço Essencial, constitucionalmente, diz o seguinte:
Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. 

Quero ver os 29 Senadores que assinam a PEC comprovarem que falta de Educação coloca em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. O que falarão do analfabetismo?

Vamos tratar a educação como essencial, ou só vamos usar isso para tirar mais direitos?

Além disso, esta é a primeira vez na história do Brasil que políticos que fazem parte do governo são investigados e presos. Isso é mérito do próprio governo. Ou podemos acreditar que não havia corrupção dentro dos outros governos, onde ninguém havia sido preso.

As condições de vida na periferia melhoraram sim. O poder de compra aumentou consideravelmente. Nem nos melhores sonhos de meus pais, lá pela década 90, hoje eles teriam duas casas e dois carros na garagem. Fazer mercado e poder pagar $500 numa única compra só se tornou realidade a partir dessa década. É possível ver como a qualidade das casas aumentou, com muitas reformas na última década. Sem falar que mais da metade das casas possui um veículo próprio. E eu estou falando da Boa Vista de São Caetano.

Isso pode sim ser herança do plano real, mas tenho muitos motivos para acreditar que um outro governo não faria tudo isso.

Os últimos dois anos estão difíceis sim. Mas quem foi que prometeu implodir o governo? Quem foi que disse que iria fazer de tudo para arruinar o governo, porque perdeu as eleições? Quem foi que deu entrevista ao vivo na TV Senado assumindo que o impedimento foi por governabilidade, e não por crime?

ACM Neto obteve 73% dos votos, mas Célia Sacramento obteve 0,23%. Se acreditassem que o vice tem a mesma responsabilidade no governo, metade teria votado em Neto e metade em Célia.

A educação melhorou muito sim. Basta ir em qualquer Universidade Pública e perguntar aos professores como foi a era FHC e como a universidade recebeu recursos a partir de 2003. Só na UFBA, o tempo que fiquei, vi mais de 10 grandes obras sendo feitas. Só no Instituto de Matemática, o número de professores aumentou muito, porque com FHC tinha diminuído para menos da metade.

2018 vem aí e, mesmo não votando no PT no primeiro turno, espero muito que Lula esteja no segundo turno para eu votar nele, porque só de ver a EBC mudar seu discurso para defender corruptos, a gente percebe do que são capazes.

sábado, 8 de outubro de 2016

A vista da janela


Essa é a primeira imagem que vi da sociedade. Em mais de 20 anos, pouca coisa mudou nessa paisagem. Rio transformado em esgoto, casas que caem com a chuva, outras que inundam. Em todo verão, arraias que caem no Dique-esgoto e levam os entusiastas a correrem por elas, destoam da falta de lazer, faz-se opção única.

A gente até acha feio olhar para isso, esquecendo-se do fato de que olhar de lá para cá causa a mesma repulsa, as mesmas críticas de casas mal feitas, sem pintar, de que lá é favela.

Ali à direita há casas que afundaram em 1996. Nove famílias engolidas. No centro da imagem, asfalto e saneamento básico ainda são pautas de luta e promessas sem vergonha. À esquerda, casas ainda caem com chuvas, e um dos únicos dois campos de futebol disponíveis, feitos pelo povo.

Dos que eu sabia o nome, dezenas já morreram, por engano, por acertos de contas, por medo de si mesmos, por acidentes. Mas sei que, na verdade, foram centenas os que presenciaram essa sociedade por menos tempo do que eu. Os que sobrevivem, vivem a trabalhar, acreditando que um dia verão outra paisagem pela janela.

Pouquíssimos de nós puderam realizar o sonho de ser o que queria ser. E quem deveria ter que desistir de um sonho desse tamanho? É que a partir daqui, precisamos sonhar com 10 vezes mais forças para realizar. E ninguém pode ser culpado por não suportar tanta pressão. Quando algo acontece por aqui e os jornais querem mostrar que não somos de lá, dizem "nas proximidades de Salvador", ou "na comunidade de Boa Vista de São Caetano". Quando um morador ganha ouro olímpico, o bairro existe, a prefeitura o limpa, e a conquista é da cidade.

Como já foi decidido que não há espaço digno para todos, alguns precisam pagar a conta, precisam ter uma escola pior, nenhuma estrutura de lazer, nenhum posto de saúde, nenhuma praça, esgoto a céu aberto, nenhuma encosta de concreto, apenas três linhas de ônibus mais uma complementar. Alguns precisam trabalhar por conta própria, trazer trabalho para casa, trabalhar com os pais, e até não ter como trabalhar.

Seria muito fácil se tudo dependesse de querer. A gente aprende que é normal ser esmagado e aceitar de cabeça baixa, porque precisa ser honesto. A gente aprende que quando falta comida a culpa é nossa, porque não trabalhou o suficiente, ou não mereceu ganhar mais. A gente aprende que o tráfico vem pra cá porque aqui é lugar das coisas ruins. A gente aprende que se der algo errado, com certeza estava envolvido. E aprende que morar num prédio é ser superior.

Há 26 anos partilho a janela, a vista, a laje, os sonhos, os cansaços, os choros e os réveillons com toda essa gente. Nós cuidamos uns dos outros e rezamos uns pelos outros. Não é fácil subir tantas escadas e ladeiras todos os dias, nem sobreviver para contar. Não é fácil ter que mostrar ao mundo que algo está errado e mesmo assim ouvir que um "homem de bem" sofreu tudo isso e continuou "de bem". Não é fácil querer viver o que é nosso por direito.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O serviço político

O vereador que ajudei a eleger há 4 anos fez tudo o que prometeu e representou muito bem a população de Salvador. Lutou contra o governo de decretos do prefeito e denunciou o descaso com a educação, além da venda ilegal da merenda escolar. Participou de todas as manifestantes populares e foi contra o golpe.

Porém, ele se candidatou de novo. E aí, preciso lembrá-lo que cargo político não é de carreira, nem profissão. Meu voto não será dele novamente. 4 anos são suficientes para mudar os rumos de uma cidade, com novas leis e atualizações das leis defasadas, com transparência, combate à corrupção e valorização dos profissionais das áreas fundamentais para o desenvolvimento e a inclusão social.

Já que o congresso não vai colocar a reforma política de iniciativa popular para andar, vamos começar mudando as pessoas que estão nos representando, por mais que sejam honestas (o que é uma obrigação), para que outras pessoas possam contribuir diretamente, sem as velhas práticas.

Não reeleja políticos.

A incoerência dos armamentistas

"Eu tenho o direito de sacar minha 380 e atirar para me defender quando um marginal tentar me assaltar. Isso se chama legítima defesa." Dizem os defensores da revogação do estatuto do desarmamento.

Será legítima defesa atirar num político condenado por corrupção, ou só vale se defender do negro da periferia que não teve formação, e muitas vezes nem escolha, e que vai levar o celular de R$1.000,00?

"Excluído, iludido, quem nasce na favela é visto como bandido. Rouba muito, magnata: não vai para a cadeia e usa terno e gravata." - MV Bill

"Quando for roubar dinheiro público, vê se não esqueça que na sua conta tem a honra de um homem, envergonhado ao ver sua família passando fome." - MV Bill.

Existem várias formas de ver o mundo e opiniões são válidas, obviamente. Só que algumas convicções são contra os poderosos e outras, contra o povo.

Além disso, pesquisa do Instituto Sou da Paz aponta que 40% dos assaltos, em São Paulo, são cometidos com armas de brinquedo. É por isso que o estatuto do desarmamento foi um grande avanço: no mínimo 40% das pessoas que cometem assaltos não têm acesso a armas de fogo, sem falar nas que não assaltam porque não conseguem armas.

E aí, cidadão de bem, você prefere ser assaltado com arma verdadeira, ou de brinquedo? Tá vendo porquê o debate vai além da legalização do porte e da posse de armas? É preciso ensinar às pessoas que não precisam assaltar, é preciso mostrar as vias alternativas ao tráfico, é preciso fazer políticas públicas, e não dar armas a todo mundo "para se defender".

Fonte: https://goo.gl/NTi6na

domingo, 18 de setembro de 2016

Não quero ver você ir



O que eu não quero ver, nem ter que lamentar, é as expectativas, as lutas, as esperanças de um(a) adolescente se tornarem nulas, porque lhe esgotaram as forças, as lágrimas e as portas lhes foram fechadas. Porque, ao descobrir que a sua arte não é valorizada, que suas inteligências não são financeiramente atrativas, que o mercado é muito cruel com os sonhos da periferia, porque ao perceber que o mundo idealizado nas mídias prefere tomar-lhe a vida do que dar-lhe sucesso, aprende não será fácil constituir família, ou ganhar o dinheiro necessário para viver, mas sim apenas sobreviver.

O que não quero é chorar o fim material de alguém que tem tanto a contribuir, tanto brilho nos olhos, que faz bem a quem está perto, ou a quem lhe acompanha.

Mas, infelizmente, sei que vou chorar, como já chorei tanto por dentro com as notícias, ou ao lembrar das nulidades de vida, de cor, de sorrisos, que pude acompanhar pessoalmente. Vou chorar, e meus irmãos da periferia vão chorar, porque alguns outros decidiram que não cabe todo mundo nesse espaço, que não vale a pena dividir com todos nós. A gente vai chorar a dor das mães que deram tantos conselhos, mas também vai lembrar das dificuldades de se estudar por aqui, da criatividade necessária para ter lazer, do quanto ainda somos esquecidos, da rua que ainda não foi asfaltada, do esgoto a céu aberto, da casa que cai com a chuva, dos ônibus com baratas, das muitas escadas, ladeiras e becos.

O que eu não quero é esquecer de tudo o que a periferia dos centros urbanos faz na vida de uma pessoa. E, com toda certa, o que as pessoas da periferia fazem para o mundo é 99,9% bom. E aquele 0,1% é só devolvendo o que o mundo faz de tão cruel com a gente.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Surpresas de Aniversário



Uma passagem bíblica que sempre me intrigou é a do filho pródigo. Primeiro porquê concordava com o filho mais velho, que sempre esteve ali e julgava que nunca havia recebido nada. Depois sobre as amizades só estarem com o filho mais novo enquanto ele tinha algo a oferecer.

Mas essa passagem fala mesmo é de amor. Um amor pelo filho mais velho, que sempre teve tudo, e porque o pai não deixou de amá-lo mesmo enquanto sofria a ausência do outro filho. Um amor pelo filho mais novo, que dá a sua liberdade tão sonhada e, quando ele volta sem nada nas mãos, sem nada a oferecer, o pai o ama e festeja sua volta.

A gente só vai saber o quanto é amado quando não tiver nada a oferecer e mesmo assim receber ajuda dos amigos, da família. A gente só sabe se é amado quando não pode dar de volta nada além de um sorriso, e mesmo assim as pessoas não te deixam caminhar sozinho, como diz Padre Fábio de Melo..

Sempre busquei cultivar minhas amizades. Sempre quis ter muitos amigos. Sempre tentei me integrar a grupos. Mas muitas vezes me vi sozinho. Porém, hoje eu sei que nunca estive sem amigos.

Desde que comecei o tratamento contra o câncer, já recebi dezenas de visitas em casa (e olha que não é fácil chegar), já respondi centenas de mensagens de pessoas preocupadas, que não querem me perder.

Não é fácil enfrentar o tratamento, até porque são dias e mais dias em casa, numa rotina que cansa, sem poder exercer minha profissão, que é educar.

E hoje, foi mais um capítulo de uma história que contarei por muito tempo: duas festas surpresa no mesmo dia, com pessoas que conheço de lugares diferentes. E tem muita gente que tem me ajudado tanto nessa caminhada, mas não postei foto porque ainda estava no processo de aceitar os efeitos da quimioterapia, principalmente a perda de cabelo.

No mais, só posso lhes agradecer e dizer que cada passo que dou contém um pouco da força, das orações e da energia de cada um e cada uma de vocês. E tudo o que eu puder conquistar terá sido por causa de vocês também, que me deram a mão num momento como esse.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Protestos Fora Temer


Não espere ser tratado da mesma forma nos protestos.

Existe uma diferença crucial entre os manifestantes que tomaram as ruas contra Dilma e os que agora as tomam contra Temer. E não é a ideologia política, porque no fim, bem no fim das contas, quem está governando esse país é o congresso. Elegemos um congresso muito conservador em 2014. E o reflexo disso ainda está por vir. Serão as medidas tomadas para aliviar a crise que irão diferenciar esse congresso de um outro mais representativo dos interesses dos mais pobres.

O que diferencia você que protesta contra Temer daqueles amarelinhos que protestaram contra Dilma, é o que a Polícia faz com você.

Contra Dilma, transmissão ao vivo exaltando os manifestantes, pessoas em sua maioria de classe média e média alta. Qualquer ação da Polícia resultaria em inúmeras reportagens, identificação e prisão dos policiais, além da acusação do Governador, por ter ordenado ação contra o povo.

Contra Temer, nenhuma menção na TV (enquanto não puder chamar alguém de vagabundo), a maioria dos manifestantes vem da periferia, ninguém importante para garantir seus próprios direitos diante da Polícia. Assim, independente do partido do Governador, ele vai usar o poder que tem para dispersar a manifestação. É a pressão das pessoas importantes, com a mídia em silêncio, que garante que a Polícia pode fazer o que for possível para diluir todos os protestos.

Por isso que a Polícia pode cegar um cinegrafista, ou uma manifestante, e ficar por isso mesmo.

O fato dos manifestantes contra Dilma tirarem fotos com a Polícia não é porque eles são pacíficos e os contra Temer são vagabundos. Mas sim porque a Polícia não podia fazer nada antes e agora pode. A Polícia Militar é treinada para tratar o povo como inimigo de guerra. A situação que nos encontramos, travestida de guerra contra o tráfico, tem como uma das causas a maneira como a segurança pública é gerida: o povo é inimigo de guerra.

Então, não adianta ser domingo, de madrugada, com 10 pessoas. Não adianta você ir com flores para o protesto contra Temer, você vai levar bala de borracha, no mínimo. Quem comanda a PM indiretamente já autorizou o massacre. Vá preparado e muito atento.

E não descarte a possibilidade de ter que devolver as bombas lançadas. Porque a chapa vai esquentar.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Nosso Soneto



Invade-me a felicidade
Para fazer-me sentir o amor.
Tua alma perfuma minha vida
Como um jardim pulsa cada flor.

O vazio por muito habitou-me
Agora ponho-me a transbordar.
És a fonte de tudo que sinto
Tua mão nunca mais irei soltar.

Quero estar contigo pra sempre
Somente assim estarei completo.
Coloco-me à sua disposição

Nosso amor é lei, não decreto.
Viveremos juntos de coração,
Corpo, toque, sorriso e mente.

O julgamento vingativo


Dilma mexeu no esquema de corrupção em Furnas, onde Eduardo Cunha era um dos líderes da célula criminosa (segundo Janot). Depois Dilma negou-se a defendê-lo no processo de cassação.

Eduardo Cunha usou o ódio que várias classes têm do governo populista para buscar uma forma de devolver o que sofreu. Nenhuma citação do nome de Dilma, nenhum ato pessoal contra o país, nenhuma conta no exterior, nada de enriquecimento ilícito.

Mas eles buscaram tanto que acharam: uma brecha na lei. A combinação de uma lei de 1950, com a Constituição Federal mais duas leis e os decretos presidenciais culminavam exatamente na única chance que teriam: era possível haver duas interpretações dos mesmos fatos, com as mesmas leis. Sendo assim, convencidos de que uma interpretação dava base jurídica para o processo de impedimento, bastava acertar com os senhores votantes, garantir-lhes vida política longa e, de quebra, levar o aplauso da população. População essa que sempre foi o objeto precioso em casa passo: uma parte precisa continuar mandando e a outra, continuar obedecendo.

Foi orquestrado com o TCU, que nunca havia rejeitado uma "pedalada fiscal" e o fez ao mudar sua interpretação depois do fato. O PMDB retirou-se da base do governo para comandar o país, novamente, a serviço dos sanguessugas de sempre. O PMDB apóia o lado "vencedor" desde 1964.

Com todos os elementos e porque 1,7 bilhão de reais não estava no seu lugar, está consumado. A história já transformou algozes em heróis, mas não para sempre. Essa é uma boa hora para acreditar que a consciência não morre com o corpo.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Pós-Olimpíadas



Perguntaram-me o que esperar do pós-Olimpíadas.

Eu realmente não quero que a gente volte somente para o futebol. Quero ver os campeonatos mundiais de Boxe, Canoagem, Taekwondo, Atletismo, Natação, Levantamento de peso, Handebol, Judô, etc. Quero que as TVs mostrem mais sobre tudo isso.

Mas também fica o desejo de que estejamos mais alertas aos esportes que nos surpreenderam e que os acompanhemos pela internet, nos sites das confederações.

E, mais importante, que a gente cumpra nossa responsabilidade com o futuro desse país: nunca desistir dos sonhos das crianças, que nunca neguemos a oportunidade de nossos e nossas filhos(as), sobrinhos(as), afilhados(as), etc, de praticarem os esportes que eles e elas quiserem.

Que antes de pensarmos em falar que as crianças e os jovens de hoje em dia não querem nada, lembremos o que fizemos com a oportunidade que tivemos, de canalizar a esperança que a Rio 2016 plantou em nós para melhorar a nossa rua, o nosso bairro.

Obviamente, os esportes não irão mudar tudo, mas esses 17 dias nos mostraram muita coisa, nos deram muitas esperanças, porque fomos nós que acolhemos, que fizemos acontecer e mostramos ao mundo do que os países em desenvolvimento são capazes.

Enfim, hoje é um dia que eu definitivamente queria poder estar na sala de aula, para passar a emoção de fazer parte daqueles que têm a chance de recomeçar muito do que perdemos ultimamente.

domingo, 21 de agosto de 2016

O legado da Rio 2016



As Olimpíadas estão terminando neste dia 21. Segunda, todos os programas de esportes, inclusive os da TV fechada que duram de 3 a 4h, voltarão a noticiar apenas o futebol masculino.

A verdade é que a TV não tem a menor intenção de veicular a imagem de Rafaela Silva, da Cidade de Deus, do Instituto Reação, nem da Boa Vista de São Caetano, em Salvador, com Robson Conceição mudando a história do bairro, nem Isaquias Queiroz exaltando a presença negra nos pódios, nem a força das mulheres, que nem clube têm, e defendem a seleção de futebol como o fizeram na Rio 2016 e tantos outros exemplos, que são de superação, mas infelizmente são de exceções.

E é a existência dessas exceções que confirma a regra que transformar a periferia, para que não precisemos sair dela, só faz parte das ações de quem batalha todos os dias para sobreviver, ou de quem conseguiu sair da curva.

A TV não vai nos lembrar que esses e muitos outros atletas (desde a classificação estadual até o ranking mundial) ganham bolsas entre R$390,00 e R$15.000,00 por mês, além do salário de R$3.200,00 numa parceria entre Ministério dos Esportes e Ministério da Defesa para atletas de alto nível.

Segunda-feira, as escolas públicas irão continuar sem incentivo à prática dos esportes, sem materiais, porque o dinheiro nem chega. Segunda-feira, a magia contagiante da prática esportiva, o entusiasmo, a torcida ímpar, a mudança que necessitamos há tanto, estarão no passado.

Porém há a chance de fazer esse presente perdurar, porque ainda não acabou. Ainda há a chance de motivar crianças, de procurar projetos sociais, academias, escolas específicas, e que essas instituições se espalhem pelo Brasil, e matricular nossos filhos, sobrinhos, afilhados, onde eles e elas quiserem se aventurar.

E assim, talvez aprenderemos a nunca desistir dos sonhos de uma criança.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A autoridade perdeu o juízo



Faz algum tempo que os novos tempos chegaram e, com eles, muitos paradigmas começaram a mudar. A ideia de mundo líquido do Filósofo Zygmunt Bauman faz-se presente em quase todas as relações interpessoais. "Não há mais conceitos sólidos. A pós-modernidade é vivida ignorando as divisões, com formas diferentes, ocupando espaços e diluindo certezas, crenças e práticas."(1)

Hoje, numa sala de aula, os alunos podem acessar mais informações com seus celulares, do que o professor pode "puxar" na mente para responder questionamentos. Antes mesmo de o gerente de uma loja vir resolver questões, o consumidor já pode encontrar na internet várias pessoas lesadas da mesma forma, inclusive qual artigo do Código de Defesa do Consumidor ajuda-lhe. Populares impedidos de manifestar-se podem questionar à Polícia imediatamente sobre direitos fundamentais garantidos na Constituição. Fiéis das mais variadas Religiões e Igrejas ressignificam a ideia de Amor. Pela primeira vez na história, são os jovens que dominam a informação, e não os mais velhos. A tecnologia trouxe avanços e crise. Como sairemos dela?

Desde a metade do século 20, o Brasil foi apontado como país do futuro várias vezes. A última em 2009, quando a The Economist nos colocou em sua capa. Agora, nas Olimpíadas, todos fazem questão de lembrar: "Quando o Brasil foi escolhido, vivíamos outro momento, éramos o futuro. Não somos mais." Interessante como o mundo líquido é muito mais líquido quando o assunto é colocar um país em desenvolvimento no seu lugar. O mercado financeiro exalta e derruba quem ele quer, rapidamente, mas para que isso aconteça é preciso que o país esteja com crise de autoridade.

Com tamanhas mudanças, não há mais espaço para relações verticais. Não existe mais detentor de inteligência e receptor de informações inerte, como determina o "Programa Escola Sem Partido", que evoca conceitos Durkhenianos para justificar seus absurdos. Quem o propõe, deixa óbvio que não está sabendo lidar com esse mundo. É por isso que preferem defender a psicologia da educação do início do século 20, onde os professores são detentores de todo o conteúdo e os estudantes apenas receptores. No fundo, a classe política perdeu a autoridade e não têm a mínima ideia de onde recuperá-la.

Como o professor historiador Leandro Karnal lembra sempre: não podemos confundir o fim do mundo com o fim de um mundo. O mundo que existia na década de 1990 quase não existe mais. Há muita diferença. A título de comparação, continua Karnal, se um homem dormisse no Século 13 e acordasse cem anos depois, quase nada estaria diferente, ele conseguiria se comunicar e usar as ferramentas. Por outro lado, alguém que dormisse na década de 1980 e acordasse em 2016, não conseguiria se comunicar, pois até a linguagem mudou bastante. Sem falar das ferramentas tecnológicas. O mundo do homem de 1980 já acabou.

Assim, talvez a "categoria" que mais sofra com o turbilhão de mundos que surgem e passam cada vez mais rápidos, é a das autoridades. Autoridades políticas, sociais, militares, comunitárias, etc. O que antes era admitido como verdade absoluta, pode não ser mais tolerável numa simples discussão. Argumentos do tipo "sempre foi assim" caíram no limbo. É sabido que há tradições milenares que ainda fazem sentido. E, obviamente, não é possível dizer que tudo morreu, porém a convivência e a maneira como as relações se dão, mudam constantemente.

As relações, agora, não admitem verticalidade. O que é imposto "de cima pra baixo" não é mais saudável aos nossos tempos. Por isso, há uma crise muito grande de referências. Em quem vamos confiar? Quem pode falar por nós? Quem de fato nos representa? As atuais autoridades viveram um mundo que não existe mais. Cresceram numa época em que os adultos tinham toda a razão e hoje são adultos na época em que os jovens têm a razão e o domínio das ferramentas. Houve a quebra de um paradigma imenso.

Ao olhar para a realidade, inegavelmente perguntamo-nos de onde virá a solução. Quem tem o poder, ou a autoridade, de religar as pontas quebradas e restabelecer um curso "normal" para a história? A resposta é dolorida, mas óbvia: as autoridades.

Perdemo-nos no tempo, principalmente na tarefa de cumprir as nossas responsabilidades. Infelizmente, são os professores, os policiais, os políticos, os líderes estudantis, os líderes sindicais, religiosos, as mães e os pais, que não estão preparados para seus deveres.

Desde muito tempo, a juventude foi acusada com o jargão "No meu tempo não era assim, o jovem respeitava a moral e os bons costumes." Esse é o clássico sinal de que a pessoa perdeu-se no tempo e, pior ainda, não admite que seu mundo tenha ficado para trás. Fala-se mal dos jovens desde antes de Cristo.

Esse nosso mundo vai passar e provavelmente não temos mais o que fazer com ele. Mas como sair bem dessa crise? Como entregar aos próximos jovens um mundo, que sem dúvida será líquido, porém com gerações conectadas e cooperativas?

A chave está na horizontalidade das relações. Ser horizontal é preferir o círculo, onde todos contribuem com todos, segundo a sua habilidade. A horizontalidade depende da troca de experiências e do desejo de absorver conhecimento, independente de com quem seja. Isso tudo deve ser apreciado, mas sem perder a autoridade, porém nunca exaltar o autoritarismo. O autoritarismo é obediência cega, onde não há um único questionamento. É importante lembrar que a iniciativa deve ser da autoridade. Exercer autoridade horizontal requer respeito e companheirismo, escuta e debate saudável, vigilância das leis e perseverança.

Dessa forma, professores precisam conhecer as teorias da educação, policiais precisam conhecer seus estatutos, políticos precisam ser honestos, líderes estudantis precisam de ampla formação, líderes sindicais precisam garantir os direitos dos trabalhadores e pais e mães precisam aprender a educar seus filhos. Tudo isso, da forma mais circular possível, onde o diálogo supere os monólogos, onde garantias constitucionais e legais sejam respeitadas na sua totalidade, onde o todo seja beneficiado, em detrimento da manutenção do status quo, onde a essência coopere para com todos, onde não haja medo, mas respeito e aprendizado mútuos.

Um passo simples, porém significativo, é ouvir as outras pessoas sobre suas necessidades. E quando se está numa posição de autoridade, dar a oportunidade de que outras pessoas falem e tentar agir numa linha o mais próxima possível daquilo que é mais evidente e necessário, é essencial para que as relações não se quebrem. Em todas as esferas, o diálogo que resguarda os direitos fundamentais e as garantias constitucionais das pessoas, sempre será o melhor caminho. Pois enquanto o orgulho de cada um reivindicar seu nome na história, estaremos deixando o melhor dela correr por nossos dedos.

Citação (1): http://goo.gl/35F7CX

A educação é o caminho



Existe uma coisa que os golpistas não podem mudar: minha geração cresceu junto com o acesso à internet, da periferia entrou na Universidade, adquiriu senso crítico e tem a oportunidade de transformar o futuro do país.

Nossos filhos não estarão à margem, como nós estávamos há 15 anos. Nossos filhos já nascerão com futuro. Terão bisavós que aprenderam a ler depois de idosos, avós que voltaram pra escola adultos e pais e tios com nível superior.

Por mais que os mais ricos queiram colocar os mais pobres no "seu lugar", o tamanho do estrago que a periferia vai causar nos grandes monopólios ainda não pode ser calculado. A casa grande surta quando a senzala aprende a ler.

Por que ignoram as Pastorais?



Pode procurar: das páginas que "defendem a doutrina católica", ou que simplesmente julgam-se interlocutoras de todos os católicos, quando foi que elas falaram bem de uma única Pastoral?

Há quem julgue que o Concílio Vaticano II não deveria ter dado oportunidades para que as Pastorais surgissem. Esse pensamento já foi duramente rebatido por Bento XVI, ao responder aos Lefebvrianos que a volta à Igreja pré-conciliar está e sempre estará fora de questão.

Os passos de Francisco dispensam comentários sobre a importância que ele vê nas Pastorais.

O que talvez seja mais forte, nos últimos 20 anos, é o sentimento geral de que só há um jeito de viver a Espiritualidade, na Igreja. Estou em casa, 24h por dia, nas últimas 2 semanas. A programação da rádio católica daqui se repete todos os dias. As mesmas músicas passam na mesma hora. Se gravar uma semana e colocar pra repetir, poucas pessoas irão notar a diferença.

A questão é que as Pastorais não têm essa Espiritualidade, enquanto os meios de comunicação católicos propagam somente um jeito de ser católico. E, muitas vezes, com aval dos Bispos. Assim, gera uma perseguição inexplicável a quem utiliza-se de outros dons do Espírito. Quando o PAPA mandou uma carta para a Pastoral que faço parte, sites católicos chegaram a questionar a veracidade, porque não respeitam as Pastorais. Só tiraram os questionamentos do ar, depois que o site da Rádio Vaticano publicou a carta.

Então, é todo um contexto enraizado na mente movimentos de massa e algumas comunidades, de que as Pastorais não servem. E, pior ainda, propagam essa ideia nas conversas e muita gente ataca-as com a certeza de que estão salvando a Igreja.

Defendem uma ideia errada, perseguindo o que foi uma das maiores inspirações do Espírito na história do Cristianismo.

Um jeito a mais de ensinar

Não existe um jeito infalível de ensinar. Nunca existirá. Mas você já se perguntou o que seus alunos querem aprender? Você já os perguntou o que eles querem aprender?

Faça isso em todas as turmas. Ouça, escreva com atenção. Chegue em casa, busque as fontes dos conteúdos essenciais de tudo o que eles querem. Volte à sala de aula e ensine o essencial, de forma que os alunos possam desenvolver parte do trabalho. Faça-os verem acontecer, crie o ambiente para que as experiências sejam em grupo e esclarecedoras.

Menos é mais. Menos conteúdos, mais naturalidade nas relações. Deixemos as crianças e os adolescentes serem crianças e adolescentes também dentro da escola. E isso vai se espalhar.

A espionagem do Pokemon GO


A pessoa tem Android, ou iPhone, usa o APP do Facebook, e tem medo das permissões do Pokémon GO?

Gente, até o Fruit Ninja já "espionou" mais do que o Pokémon GO. Não há nada de graça. Todas as nossas informações são vendidas para empresas de propaganda, ou governos. Depende de qual informação, depende de quem paga mais por isso.

Você paga para malhar e ficar na esteira que é em frente à Rua, para mostrar seu corpo para quem está passando. Você recebe ligações para melhorar o plano de saúde, para ter melhor plano de dados no celular, até para doar dinheiro diretamente na conta de luz.

Hitler tinha muito, muuuuito menos informações sobre os alemães do que Temer tem sobre qualquer brasileiro hoje. É a realidade, se é o consumo que deve ser priorizado, tudo que é nosso será usado para que a gente continue consumindo.

A internet (superfície) já foi muito mais "pirata" do que é hoje. Hoje nós compramos produtos com softwares originais e, ao fazer isso, damos aos donos desses softwares autorização para que vendam tudo o que podem descobrir sobre nós. Não estou dizendo que a pirataria é melhor, mas esse não é o "desenvolvimento" ideal.

Escola precisa de autonomia



O programa Escola Sem Partido deixa claro que o problema não é a escola ter uma ideologia, porque ele não sugere o fim das escolas religiosas, por exemplo. Esse programa prega, na verdade, o "Professor sem partido". E desde quando é proibido ter partido? Chegam ao absurdo de sugerir que o professor não tem liberdade de expressão.

Um Senador que sugere censura a uma classe inteira de profissionais só deve acreditar que todos os outros profissionais ignoram suas preferências políticas em seu ambiente de trabalho. Como se só professor fizesse greve, só professor pudesse pensar diferente de seus empregadores.

Mas uma coisa é certa: se é minha profissão que coloca medo em Senadores, na classe alta e em quem quer manter o pobre "no seu lugar", então é a melhor profissão que alguém pode ter.

Ideia Legislativa

Tentando entender a atual situação da vida dos professores, para que os professores tenham a oportunidade de serem valorizados como devem, criei um Projeto de Lei e enviei para o site do Senado.

Esse projeto precisa de 20.000 "curtir" para ser avaliado por uma Comissão do Senado.
Se você concordar com minha ideia, peço que clique em "Apoiar Ideia" no final da página. Basta conectar com o Facebook para votar.

Se você apoiar minha ideia, compartilhe para que cheguemos aos 20.000.

Obrigado.

Sentimentos de uma vida

A vida possui desdobramentos que nem imaginamos. Podemos fazer muitos planos, mas nunca colocamos todos os "e se" na conta.

Preparamo-nos para realizar tarefas a longo prazo, mas tudo pode mudar rapidamente. Perceber que encontrou o verdadeiro amor, em menos de 24h após conhecer a pessoa. Não alcançar desempenho mínimo necessário, mesmo estudando, ou trabalhando, muito. Descobrir que está com uma doença grave.

Isso tudo mexe profundamente com a nossa vida física e psicológica. O que nos inspirava, de repente não inspira mais. O que trazia maior sentido à mudança de paradigmas, torna-se obsoleto. As impressões mudam muito. Tudo o que está à nossa volta começa a se repetir, como já dizia Cazuza, com "eu vejo um museu de grandes novidades", mas é óbvio que o tempo não para.

O que mais fica latente, nas situações que nos deparamos é o quanto a família é indispensável e insubstituível. É nossa família que nunca pensará em deixar de cuidar de nós. Nesse caminho, também aparecem as pessoas que nós pouco lembramos no dia a dia, mas que colocam-se à disposição para partilha, escuta, ajuda, doam-se por nós. Também há os amigos que se afastam, por vários motivos, mas que deixam o sentimento de "cadê você aqui, nesse momento?" em nossas mentes.

As almas das pessoas reagem de formas diferentes às dificuldades que encontramos, mas as lindas almas que chegam junto para lutar fazem nossos desafios ficarem menores e menos dolorosos. É preciso agradecê-las, presenteá-las com sorrisos, abraços, com um "eu só consegui por sua causa".
A gente nunca sabe, exatamente, o que vai encontrar, num amanhecer qualquer, ao virar uma esquina, ao abrir o resultado de um exame.

Impedimento na Câmara

A verdade indiscutível acordou com todos(as) nessa manhã de 12 de maio. Mas como é sabido, a verdade não é única. Há milhões de pessoas que acreditam na existência do crime de responsabilidade, assim como há milhões de pessoas que acreditam que é golpe.

Discutir isso já não vai mudar a história. O que é muito óbvio, e muita gente gostaria de esconder, é que o congresso está muito pior do que qualquer outra "instituição governamental".

Num dia, o então presidente da câmara vota a pauta, perde, e manda votar de novo até ganhar, e causa indignação de um lado. Noutro dia, o agora presidente da câmara anula uma votação após o prazo legal, causando indignação no outro lado.

Estão brincando de governar o 5° maior país do mundo em nome de si mesmos. Que as convicções pessoais de cada um(a) influenciam em seus votos, não há dúvidas. Mas muitas dessas convicções mudam a cada reunião com quem pode oferecer mais.

E vai chegar mais uma eleição e os mesmos senhores, as mesmas senhoras, aparecerão dizendo que defendem o país.

É preciso mudar o sentimento de o que significa ser brasileiro(a).

sábado, 30 de abril de 2016

Foi tudo armado

O espetáculo foi preparado e montado. A presidência do show detinha de dez seções e, com uma disposição nunca antes vista, ensaiou às sextas e segundas, muito diferente das vazias terças, quartas e quintas.

Sentaram para conversar com os patrocinadores da festa. Tudo isso para marcar a mostra final, aliado com a grande mídia, num domingo, ao vivo e para todo mundo ver. Quando foi que vimos tantos deles em Brasília num domingo?

E quando mais poderemos obrigá-los a fazer o que queremos? Afinal, não fomos nós que compramos os ingressos?

segunda-feira, 14 de março de 2016

BEM VINDO(A)!

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Atos dos apócrifos


VILA MOISÉS: 1º ANO

Eu creio no Amor

O Desenvolvimento que não deveríamos ter

PT x PMDB?

Os passos da Vida

E nem deu errado. O ENEM deu certo!

43º CrisJovem - PJ Salvador

Mulher Negra, Homem Negro.

A casa do futuro já chegou

Somos Igreja Jovem em Saída 

Soneto da Paixão

Educadores Sociais

Final Feliz

Conflito em sala de aula

Pastoral é de processo

Amigo PJoteiro, amiga PJoteira

Soneto da inspiração

Agressões: qual a postura do(a) professor(a)?

A PJ te representa?

Atos dos apócrifos



A gente que escreve sobre os acontecimentos e os sentimentos. A gente que consegue transformar as diversas sensações em palavras, fica muito angustiada ao observar essa realidade apresentada em rede nacional desde 2015.

É difícil ver os exageros, de todos os lados, e conseguir exprimir exatamente o que estamos sentindo, ou uma opinião bem argumentada. Até sabemos de qual lado devemos estar e quem realmente merece, ou apoia, nossas conquistas, nossos anseios. Mas há bombardeios de informações de tantas áreas diferentes, que um olhar cuidadoso e crítico é necessário, para que a verdade prevaleça.

Muitas postagens, feitas no calor da condenação, ou no anseio da defesa, foram produzidas com informações e até imagens fora de contexto. Essas postagens inundaram as redes sociais de todos e todas, fazendo um amontoado de opiniões irritarem qualquer pessoa, mesmo que concordasse com tudo o que apareceu em sua linha do tempo.

Ora, é óbvio que ninguém em sã consciência aprova a corrupção (principalmente quando é outra pessoa que faz o ato, e não nós). Como definiu muito bem o barão de Itararé, "A corrupção é o bom negócio para o qual não fui convidado." Infelizmente ainda está enraizado em nossa cultura o chamado "jeitinho brasileiro", que necessita ser desconstruído nas escolas para dar lugar a um verdadeiro sentimento de pertença à sociedade, mas como é tratado mais à frente, também precisamos garantir que todas as pessoas tenham direito a pertencer à sociedade.

Andar pelo acostamento, assinar lista de presença, ou folha de ponto, por outra pessoa, parar na vaga do idoso, colocar R$10,00 a menos no caixa da ONG, grupo, ou organização que fazemos parte, desviar centenas ou milhões de reais, essencialmente dá no mesmo: estamos utilizando o convite para fazer parte do negócio. Quem lida com milhares de reais acha que desviar R$90 por mês é muito pouco e não vai afetar ninguém. Quem direciona milhões, acredita que desviar R$10.000,00 é muito pouco. Quem libera bilhões por ano, pode pegar uns R$5.000.000,00 para alguns apartamentos que necessita muito comprar. Quem estuda, pode achar que levar um marcador de quadro branco, ou algumas folhas de ofício não vai mudar nada. Quem trabalha na administração pública pode oferecer-se para imprimir trabalhos, etc. que não têm a ver com suas obrigações trabalhistas. E por aí vai. O que precisamos constatar é que é muito, muito difícil dizer não quando o bom negócio parece viável, fácil de encobrir e que aparentemente não afetará ninguém. Afinal, “quem nunca foi corrupto que atire a primeira pedra.” – Mailson Pereira.

Porém, a grande diferença entre participar de um protesto de verdade e de uma montagem muito bem planejada juntamente com a mídia, é a quem (pessoa, ou instituição) o ato está atingindo e quais são os seus objetivos. É triste lembrar que, em Junho de 2013, chorei durante um dos atos, gritando “O Brasil acordou”, acreditando numa primavera brasileira, mas em 2014 políticos que criticaram os movimentos de 2013 na época, se elegeram usando o discurso de Reforma Política, ou mudança nacional, usando imagens das ocupações em Brasília. Resultado: sem querer, criamos um monstro que elegeu a Câmara e o Senado mais conservador – e menos representativo – da história. E é só observar quais projetos de Leis, quais emendas constitucionais estão sendo votados. As fotos daquele Junho não negaram que havia mais de 1 milhão de pessoas em São Paulo, 150 mil em Salvador e milhares de outras em muitas cidades, dispostas a construir um país mais justo.

No melhor português que podemos descrever, fomos massacrados nos protestos de 2013. Os Governadores, apoiadores do Governo Federal, ou não, como coronéis do início do século passado, convocaram suas Polícias para combaterem tais atos com bombas, balas de borracha, spray de pimenta e, no caso de Salvador, até arma letal. Durante quase duas semanas, qualquer estouro assustava-me. E foi uma emboscada, muito bem planejada pela Polícia, que formou um cordão de isolamento no perímetro menor, esperou os manifestantes pacificamente sentarem no chão e começaram o massacre.

Mas voltando ao tipo de protesto, é legítimo sim protestar contra qualquer tipo de governo democrático, ou no nosso caso, contra um único partido que detém 17% da Câmara Federal e 16% do Senado, ou se falarmos dos blocos políticos, contra 46% da Câmara e 47% do Senado, considerando que o PMDB não apoia mais o governo, como foi amplamente divulgado após sua convenção nacional.

Porém é um grande erro aceitar que as pautas de um movimento sejam tão simplistas. Um protesto – caminhada, num domingo, em local turístico, ou pouco movimentado, é o primeiro sinal de que não tem como objetivo lutar por questões sociais amplas. Alguém viu um cartaz sobre educação? Melhores salários? Menos horas semanais de trabalho, condições mais dignas de trabalho, mais investimentos na saúde, transporte público, etc.? Bom, é só perceber que a maioria dessas pessoas é quem paga salários, é quem considera o salário mínimo muito alto, quem nunca pôs os pés num hospital público, muito menos numa escola pública. Não há outra luta, senão a punição ao PT e aos partidos de Esquerda, mesmos os que nunca tiveram uma única pessoa filiada acusada de crime.

Não nos enganemos! Todas as vezes que passa um problema do SUS, da escola pública, da segurança pública, do lazer, moradia, etc. e esses jornais criticam o governo, porque não presta os serviços com a qualidade necessária para atender a todos, eles não estão defendendo que o Governo melhore os serviços. O que defendem é o fim desses serviços para que todos e todas paguem por tudo que utilizar. Assim, eles, que têm dinheiro, poderão usar os serviços sem demora, quando quiserem, sem que haja um pobre na frente, porque chegou antes.

As manifestações das ruas, hoje, foram orquestradas há muito tempo, buscando deslegitimar qualquer passo do país em direção à diminuição das desigualdades. Querem derrubar um único partido, ou um único bloco de partidos, em vista da ascensão novamente dos partidos que governaram o país durante quase todo o século XX, que são herdeiros dos senhores donos de Capitanias, sic, Hereditárias e de famílias abastadas.

Por mais que milhares de pessoas tenham ido às ruas conscientes de que são contra qualquer tipo de corrupção e buscam mudar seus próprios atos corruptos, ou corruptíveis, a forma como a mídia se apropria do movimento e como o povo das ruas reage a isso, dá a ela um poder incontrolável. E o modo como foi veiculado, sendo 90% das imagens contra um único partido e contra a Presidente e 10% das matérias sobre a corrupção dos outros partidos (como a expulsão de Aécio Neves e Alckmin da manifestação e a bandeira contra Eduardo Cunha), o perigo da tomada de discurso dessas emissoras é iminente.

Volto a salientar que os passos dados pelos governos Petistas não contemplam integralmente o povo que tenho a obrigação de defender: os pobres. Nada de reforma agrária, nada de reforma tributária, quase nada de reforma política, reforma do código penal esquecida. Muitos avanços são evidentes na educação, no combate à fome (inimaginavelmente ignorado pela mídia), no campo, etc., mas não foram suficientes. O alinhamento do PT às pautas de centro-direita, como ao barrar a auditoria da dívida pública e não forçar a tributação de grandes fortunas além do alinhamento com o PMDB, que é o partido que tem o vice-presidente da República, o presidente do Senado e o presidente da Câmara, mostram que o seu projeto de governo tenta diminuir o mínimo possível do que é dado às classes mais altas, enquanto fatia o pequeno pedaço do bolo entre os mais pobres.

O PMDB é o partido que sempre escolhe apoiar os dois lados, ou quem muito provavelmente ganhará qualquer eleição. Seu maior filiado, José Sarney, tornou-se o político com maior tempo ininterrupto no poder da história do Brasil, com 60 de mandatos seguidos, desde o apoio à ditadura até aliar-se ao PT. É indispensável, ao pensar sobre política brasileira, traçar um olhar para os movimentos do PMDB. E a última carta da manga do partido mostrou-se provavelmente um ultimato à Presidente Dilma e ao PT, sobre o que virá em 2018.

Já presenciamos 502 anos de corrupção que nunca culminou com um único político sequer condenado durante seu mandato. Nos últimos 28 anos, mais de 500 pessoas responderam a ações sobre corrupção no STF. Apenas 16 corruptos foram condenados e somente um continua preso. Nos últimos 28 anos, apenas 16 políticos realmente cometeram o crime de corrupção?

A indignação seletiva mostrou mais uma vez a sua face, ou seria black face? Teve de tudo. Novos heróis nacionais, gritos machistas e manifestações racistas. Parte dos verde e amarelo seguraram a mão no discurso fascista. Parte manteve a tradição e mandou a selfie com a Tropa de Choque da PM. Aécio e Alckmin foram vaiados na marcha que eles mesmos convocaram. Marta também! Já Bolsonaro foi ovacionado na Capital Federal. A oposição assimilou um jeito de contar gente em marcha que antes repudiava - um número da PM, um número da imprensa, um número da organização. Babás negras empurravam o carrinho do casal enquanto eles marchavam. Na capital paulista, Black face de mendigo enforcado foi piada. No Rio de Janeiro negros foram chamados de infiltrados e expulsos da marcha com a ajuda da Polícia Militar. Em São Paulo foram os homossexuais. A genialidade de São Paulo chegou ao ponto de se contratar seguranças que tinham como único e exclusivo fim a proteção e integridade de um boneco inflável visado, o tal do Pixuleco. E para garantir a cota social nas ruas, o Habib’s resolveu munir coxinha. 6 esfirras garantiram a barriga cheia, enquanto a bandeira a performance das marionetes.

Sobre cantar o hino na manifestação: que Brasil foi entregue aos operários, lavradores e aos indígenas e negros escravizados? Por quase 400 anos, os negros e os pardos não tiveram pátria, os indígenas até hoje morrem lutando para ter sua "pátria" de volta. Vale a pena perguntar: Pátria amada por quem e, principalmente, pátria de quem? Pátria para quem? Que esses não cobrem o "orgulho de ser brasileiro" àqueles, mas sim que deem a oportunidade de serem tratados como seres humanos. Eu já estive na rua, sei o que é protestar e exatamente por isso não estarei em nenhum movimento parecido com o que houve hoje.

Salvador não foi a resistência às invasões portuguesas e holandesas, para comportar ricos e brancos nas ruas pedindo "fora" a um único partido e nada à sociedade. Não sobrevivemos ao ataque do próprio Exército brasileiro, em 1912, à toa. Não expulsamos os portugueses definitivamente em 1823, para ver os defensores da ditadura desfilarem em pleno século XXI. Salvador não é a cidade com mais negros fora do continente africano, a cidade de todas as crenças e de todos os santos, para a elite querer impor seus interesses sobre as outras 3 milhões de pessoas que aqui residem. 

Em 2003, 700 mil estudantes, a grande maioria da escola pública, protestava sobre o aumento da passagem de ônibus. Esse dia é de orgulho para nossa história. Junho de 2013, 7 vezes maior do que hoje, 150 mil pessoas desceram do Campo Grande para a Fonte Nova e receberam gás, bala e spray, só porque o movimento possuía pautas concretas. Esse foi um dia de orgulho para nossa história. A Revolta dos Malês foi uma construção que nos dá orgulho. Quando a senzala se levanta contra a Casa de engenho, é que a verdadeira história está sendo feita.


"A cultura e o folclore são meus
Mas os livros foi você quem escreveu
Quem garante que palmares se entregou
Quem garante que Zumbi você matou
Perseguidos sem direitos nem escolas
Como podiam registrar as suas glórias
Nossa memória foi contada por vocês
E é julgada verdadeira como a própria lei
Por isso temos registrados em toda história
Uma mísera parte de nossas vitórias" - Natiruts. 



"Que venham me calar...
Eu não calarei!

A saliva que circula em minha boca
Lançarei na face do que julga com crueza
Aqueles que não encontram 
Armas para sua defesa.

Calem a boca
Os que atacam,
Os que matam!
Lavem a boca para falar dos que morrem!

Perigosos são os que destilam veneno 
Aos ouvidos desatentos,
Que balançam as cabeças e dizem amém!

Eu não vou abrir mão da utopia,
Não me cabe a tua mais-valia
Que tudo corrompe
E tudo detém!
Eu acredito na paz...
Não me venham com guerra!
Que se unam os lares,
Que se faça a divisão igual da terra!

Enquanto o homem dominar o homem 
E for fatalismo o discurso reproduzido,
Quanto a vida valerá?
Até quando este neoliberalismo nos aniquilará?

Liberdade, de verdade!
Liberdade, eu vou gritar!
Unir minhas mãos,
Repartir o pão, o chão
E Você, então, virá." - Camila Paula

Fontes:
http://goo.gl/zSBML
https://goo.gl/QM3iUF

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

BEM VINDO(A)!

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Atos dos apócrifos


VILA MOISÉS: 1º ANO

Eu creio no Amor

O Desenvolvimento que não deveríamos ter

PT x PMDB?

Os passos da Vida

E nem deu errado. O ENEM deu certo!

43º CrisJovem - PJ Salvador

Mulher Negra, Homem Negro.

A casa do futuro já chegou

Somos Igreja Jovem em Saída 

Soneto da Paixão

Educadores Sociais

Final Feliz

Conflito em sala de aula

Pastoral é de processo

Amigo PJoteiro, amiga PJoteira

Soneto da inspiração

Agressões: qual a postura do(a) professor(a)?

A PJ te representa?

VILA MOISÉS: 1º ANO



Há um ano, foi preparado e executado um massacre na Vila Moisés, no bairro do Cabula, em Salvador. Há um ano, 13 vidas foram interrompidas, porque a Rondesp escolheu qual era a hora de estar em casa e qual era a hora de morrer por estar na rua. Dezenas de tiros foram deflagrados na madrugada do dia 06 de fevereiro de 2015, ossos foram quebrados com uma raiva que não se devia existir, roupas, chinelos, fones de ouvido, foram deixados e trocados por roupas de camuflagem.
O crime? No máximo ser vítima do tráfico que os tornou usuários. O motivo? Vingança por um fato ocorrido 15 dias antes com outras pessoas, onde duas pessoas morreram e um PM ficou ferido. Era véspera de carnaval. Eles também tinham que cobrar sua parte. Aconteceram mais três execuções no mesmo fim de semana.


Na segunda-feira, dia 09, vários seguimentos de movimentos sociais se reuniram para discutir os acontecidos e gerar uma agenda de protestos. Na terça, estávamos no Centro Administrativo, cobrando uma reunião e posicionamento do secretário dos direitos humanos do estado. Esperamos por 5h, até sermos atendidos. Entrar naquela sala e ouvir que nada poderia ser dito contrário ao que o governador disse, porque ele era o governador e o secretário, seu "funcionário", mostrou-me mais uma face da política de compadres que vivemos, onde os companheiros apenas têm cargos diferentes, mas a função é a mesma: defender o governo. Avisamos que faríamos um protesto no local e que a polícia não nos impedisse.

Após ouvir que estávamos sozinhos na defesa à vida, tive certeza de que a Pastoral da Juventude de Salvador, organização que faço parte, deveria se pronunciar à população. A carta aberta da PJ foi construída no mesmo dia. No dia seguinte, foi publicada no site da Arquidiocese e retirada 24h depois. Até hoje não recebemos uma justificativa satisfatória sobre o porquê dessa retirada. A carta está disponível neste link: http://goo.gl/r6zMFe

Mas voltando ao ato, naquela quarta-feira, em muitos anos, eu coloquei os pés pra fora de casa com o medo de não voltar. Sabia que o dia seria tenso e cheio de lições que levaria por toda vida, ou por toda morte.

O medo não era de encontrar um "bandido" por aí e perder a vida. O medo era de ser impedido, por balas policiais, de defender o direito à vida.

Eu sabia que estava indo para o centro do vespeiro, mexer com o psicológico de quem está legalizado para matar, com o aval do seu comandante.

Mas, ao mesmo tempo que o medo tomava-me, questionava-me o que me faria melhor do que os jovens? Quão mais valiosa é minha vida, do que as daqueles pequeninos?
Enquanto o medo tomava-me, a coragem de ser protagonista da mudança fazia minha mente empurrar minhas pernas para o centro do meu medo.

Encontramo-nos, caminhamos em direção àquele lugar que guardarei no coração, e em minhas orações para sempre.


Gritamos, na frente dos covardes, que eles são racistas, que queremos o fim do seu jeito de trabalhar, gritamos por justiça. "Povo negro unido, povo negro forte; que não teme a luta, que não teme a morte". Eu não sabia se tinha o direito de cantar essa palavra de ordem, porque sabia que estava com medo, mas também tinha coragem para continuar andando.

Chegamos à entrada da comunidade, onde aconteceu a chacina. O previsto era que ficaríamos ali, na entrada. Mas durante o ato, como muitos moradores estavam conosco, seria melhor ir com eles, para garantir a sua segurança, já que a polícia ameaçava a todos. Além disso, havia representantes da Anistia internacional, da OAB e também a imprensa conosco.



Mais uma vez tive medo. Medo de entrar na periferia da periferia, onde Jesus teria caminhado, abraçado as pessoas e com elas permanecido. Puxado por meus amigos e pelo sentimento de que não podia protestar pela metade, entrei na comunidade.

Descemos uma escada e uma ladeira. Se eu achava que conhecia a periferia, entrar por aqueles becos mudou meu pensamento.

Muitas pessoas olhavam de suas portas, muitos nos acompanharam a partir dali.
Passamos por um campo pequeno de barro e continuamos a andar. Mais becos à frente. Eis que no meio das casas simples, surge uma praça, praça da alegria. Muito linda, com chuveiros, toda com piso, com espelhos, com brinquedos, construída pelos moradores. Um verdadeiro tesouro, construíram ali. Caminhamos mais e subimos outro beco e uma escada.

Assim que saímos, numa rua mais larga, encontramos o terreno onde aconteceram os assassinatos.
Em roda, no canto onde os jovens caíram, colocamos as cruzes, as coroas de flores e os cartazes que levamos. Então, começamos a encontrar evidências da chacina. Primeiro, uma capsula de bala, depois roupas, chinelos, carregador de celular, fone. Tudo ali. Não tiveram o trabalho de limpar o que fizeram. Como alguém troca tiro com a polícia e também troca de roupa? Por que as sandálias estavam juntas? Capsulas de bala lá. Luvas que usaram para manipular os corpos.

Tudo lá, 5 dias depois. Imaginem como aquela comunidade acordou, na sexta-feira.




Muitos dos moradores estavam naquele terreno pela primeira vez, desde o ocorrido. Não tinham coragem de olhar para ele. E como no gesto de lembrar os mártires da caminhada, os nomes dos 13 foram sendo gritados, enquanto respondíamos "presente". Impossível acreditar que morreram porque queriam matar policiais, ou roubar um banco.

Os adolescentes que lá estavam, sabiam que escaparam por pouco e que estão na lista. Não aguentaram falar os nomes sem chorar, alguns choraram abraçados a uma camisa achada lá. Alguns adultos se desesperaram, ao lembrar.

No fim do ato, rezamos pelas vítimas. Enquanto a comunidade rezava, eu pensava: a quem, além de Deus, essas pessoas podem recorrer, se o estado declarou guerra contra elas? Como podemos colocar vendas nos olhos e seguir a vida? O choro e a reza daquela comunidade mudaram minha vida e elevaram meu conceito de evangelho.

As perícias indicaram que os corpos tinham sinais de execução. Três meses após os fatos, o Ministério Público da Bahia denunciou 9 policiais militares por planejarem a chacina por vingança. São eles: o subtenente Júlio César Lopes Pitta, identificado pelo MP como o mentor da chacina, assim como os soldados Robemar Campos de Oliveira, Antônio Correia Mendes, Sandoval Soares Silva, Marcelo Pereira dos Santos, Lázaro Alexandre Pereira de Andrade, Isac Eber Costa Carvalho de Jesus e Lucio Ferreira de Jesus e o sargento Dick Rocha de Jesus.

Nos dias anteriores à ação, os policiais teriam monitorado o local para conseguir mais informações. Na noite da chacina, os nove PMs chegaram no local em duas viaturas com o GPS desligado. De acordo com a denúncia do Ministério Público, os soldados Robemar, Correia, Sandoval, Pereira, Lazaro e Pitta se esconderam em um matagal na Travessa Florestal, nas proximidades de um terreno baldio.

Ao mesmo tempo, o sargento Dick e os soldados Isac e Lucio acuaram e perseguiram com uma viatura diversos jovens, armando uma emboscada. A única rota de fuga possível, segundo o Ministério Público, seria pelo matagal onde os seis PMs estavam esperando.

Ao chegar no terreno baldio, em fuga, as vítimas foram baleadas por rajadas de metralhadoras efetuadas pelos militares Pitta, Robemar, Correia, Sandoval, Pereira e Lazaro. Os outros três PMs chegaram e também começaram a disparar contra as vítimas que tentavam fugir.

O sargento Dick foi atingido por um disparo de raspão, na cabeça, neste momento. Os nove policiais teriam permanecido no local por quase duas horas, executando com tiros espaçados as vítimas feridas que estavam no matagal.

Ao todo, os rapazes que sobreviveram ao atentado e as vítimas fatais foram atingidos por 88 disparos de arma de fogo. Segundo o MP, os ferimentos deles indicavam que tentaram se defender - quase todos apresentavam ferimentos nos braços. Entre eles, somente um - Luis Alberto - respondia na Justiça por posse de maconha.

O juiz Vilebaldo José de Freitas Pereira aceitou a denúncia do MP, abrindo processo contra os 9 PMs. Mas no dia 24 de Julho de 2015, a juíza Marivalda Almeida Moutinho, que substituía o magistrado responsável pelo processo, da 2ª Vara do Júri, que estava de férias, absolveu todos os envolvidos com base nos autos do processo que teve acesso, ignorando todos os fatos apresentados pelas perícias independentes e pelo Ministério Público da Bahia.

Mais uma vez, a militarização da força policial mostrou porquê deve ser extinta: acredita que está e age por cima da lei.

Que as almas de Evson Pereira dos Santos, 27 anos, Ricardo Vilas Boas Silva, 27, Jeferson Pereira dos Santos, 22, João Luis Pereira Rodrigues, 21, Adriano de Souza Guimarães, 21, Vitor Amorim de Araujo, 19, Agenor Vitalino dos Santos Neto, 19, Bruno Pires do Nascimento, 19, Tiago Gomes das Virgens, 18, Natanael de Jesus Costa, 17, Rodrigo Martins de Oliveira, 17, e Caique Bastos dos Santos, 16 anos, não tenham partido em vão.





Fontes: